Em
Moçambique milhares de pessoas sem benefícios dos recursos naturais
·
Madeira vai saindo para a China.
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“Os
operadores para além de pagar aos líderes comunitários e respectivos fiscais,
chegam a fazer ameaças em não encaminhar os 20% da sua renda anual para as
comunidades caso sejam denunciados.”
Texto:
Aunício da Silva e Estácio Valoi
Fotos:
Estácio Valoi
Apenas um
pequeno grupo de moçambicanos na esfera dos cerca de 25 milhões de habitantes
se beneficia dos ganhos provenientes da exploração dos recursos naturais em Moçambique
derivado do contrabando desenfreado destas riquezas em dimensões assustadoras
em associação e/ou conivência de lideres moçambicanos como o ministro da Agricultura
José Pacheco.
A semelhança de “campos
de futebol”, a madeira moçambicana proveniente das províncias da Zambézia,
Nampula, Niassa, Cabo Delgado continua na sua maioria a ser exportada para a
china enquanto isto acontece as comunidades locais de onde esta madeira prove
continuam a ver “navios’ sem nenhum benefício substancial par ao seu
desenvolvimento.
Toura de madeira em Mulela-Pebane |
Continuam piores
do que a anos atras, sem agua, ainda a estudarem por baixo da arvore, sem
carteiras, suas florestas devastadas com a abertura de varias estradas “ as
avenidas” pelos madeireiros na floresta para despistar aos fiscais ou alcançar
pontos mais críticos para o corte, são pontes improvisadas, trocos cortados e
montados para que os camiões possam atravessar o rio ou riachos em permanente
fuga dos postos de fiscalização com base no sistema GPS.
Estas picadas ou
avenidas, na Zambézia, com o trafego de camiões de grande tonelagem os chamados
de “comboios” com uma capacidade extraída de carregamento relativamente aos ‘
normais’ , estes tem os seus atrelados improvisados, construídos a dimensão da
encomenda do explorador florestal chines que vão transportando madeira do campo
para as seus estaleiros.
Com o peso do produto pelas ‘ avenidas’ já não
se vê capim, apenas camada de poeira que vai de entre 5-7 acima do piso solido
da estrada, na época chuvosa transformasse numa camada amassada, as pequenas
barreiras naturais de proteção também inexistentes, os animais fogem em
debandada a procura de outros pastos e logicamente a comunidade obrigada a
percorrer longas distancias a procura da carne, agua.
Segundo dados compilados com base em algumas
investigações levadas a cabo pela imprensa moçambicana e pela própria Agencia
de Investigação Ambiental EIA com base em Londres na Inglaterra
“Moçambique
perdeu $29.172.350 apenas em 2012, atribuída exclusivamente ao comércio não
regulado de madeira com a China, as florestas de Moçambique ocupam uma extensão
de 51% da superfície do país, sendo que a maior parte desta se encontra nas
quatro províncias do norte. As florestas produtivas (para a produção
madeireira) cobrem cerca de 26,9 milhões de hectares (há). A proporção anual do
desmatamento entre 2005-2010 foi estimada em 211.000ha”.
Comunidades que
deveriam ser beneficiadas não apenas pelos 20% provenientes das taxas
arrecadadas pelo governo dos exploradores florestais mal chegam as mãos destas
comunidades, até chantageadas pelos seus próprios lideres comunitários em
conivência com fiscais do departamento da agricultura.
Consultas
comunitárias feitas a revelia e líderes coniventes no saque da madeira.
Em Mulela,
distrito de Pebane-Zambézia um líder comunitário local disse “nós queremos
comer, por isso facilitamos os chineses que vem aqui tirar madeira, há
consultas comunitárias, mas pelas vias oficiais os chineses tiram muito pouco e
com as não declaradas ao governo tiram muita madeira como Chanfuta, Jambirre,
Pau-ferro, Umbila e Pau-preto e o mesmo acontece na localidade de Naheche,
distrito de Gilé, Zambézia reafirma a existência de muitos exploradores que
abatem a madeira sem antes fazerem a consulta comunitária, alegadamente com a
proteção de altas individualidades do partido no poder-Frelimo
“Pessoas
estranhas às comunidades entram, cortam madeira e nunca apresentam plano de
maneio e outros documentos.” E, ainda em Naheche na localidade de Impaca,
segundo E. Albino chefe da mesma região, para surpresa das comunidades locais
no terreno cujo exploração ilegal não foge a regra, na localidade de Mucorroge,
distrito de Moma, província de Nampula, Ibrahimo Abudo, um residente local
afirmou ver sempre camiões atravessando o rio Ligonha em direcção a Nampula, as
operações acontecem quase todas as semanas. “São camiões grandes conduzidos
pelos próprios chineses.”
Em cumprimento
ordens líderes locais escoltam camiões até a fronteira com o distrito de Pebane
desde o distrito de Maganja da Costa. São pagos em valores monetários que
variam entre mil meticais a cinco mil meticais pelo serviço que prestam. Os
fiscais comunitários da região de Mocubela, na Maganja da Costa trabalham
ilegalmente.
Membros das comunidades cada vez mais pobres e os 20% da dita (i)
responsabilidade social!
De acordo com o
ancião Paulo Domingos da comunidade de Nacurugo no distrito de Pebane na
(Zambézia). “Antigamente nós não sofríamos muitos com problemas da natureza.
Não havia ciclone com frequência e nem havia fome, mas, agora passamos mal.
“A nossa vida
aqui não está boa. Esses chineses por vezes passam nas nossas machambas com
camiões. As nossas estradas estão todas esburacadas por causa dos camiões
grandes que passam aqui.”
Abílio Amade
residente da comunidade de Malema em Pebane. “As nossas estradas estão todas
cheias de buracos e os camiões quando passam levantam muita poeira. Veja que
muitas vezes eles abatem arvores mesmo não precisando delas apenas para terem
onde passar para não serem visto”. “A nossa vida aqui dá pena para quem já viu
como isso era anteriormente. Aqui em Malema nós produzíamos muita comida, mas,
agora que não chove normalmente por causa das arvores que andam a abater
passamos mal com a fome”.
As comunidades
são unanimes nas suas afirmações e a estória é repetida nos vários pontos de
passagem da nossa reportagem.
Angelina Ualive,
membro da Associação Nokalana, em Pebane. “Criamos esta associação para
lutarmos para os nossos direitos para ver se diminuímos os desmandos que estão
a acontecer com as nossas florestas, aqui nunca tivemos problemas com água para
o nosso consumo, mas agora passamos mal, sobretudo na época quente e quando
chove as nossas estradas tornam-se intransitáveis devido aos buracos que estão
que conservam muita água”.
Paulo Selemane
da comunidade de Vassele, no distrito de Gilé enfatizou que, “aqui só passam
camiões grandes e, estão a estragar as nossas machambas porque eles passam lá”.
Artur Amade,
fiscal comunitário em Mulela, distrito de Pebane, província da Zambézia disse:
“os exploradores quando chegam ameaçam-nos e dizem que tem poder de não pagarem
nada se nós dificultarmos a actividade deles.”
São de facto
camiões de grande tonelagem ‘ os comboios” vistos pela nossa reportagem, e
viajado
Num dos camiões
conduzido por um cidadão de nacionalidade chinesa carregado de madeira furtiva
num total de 30 toros durante um período de oito horas de tempo, percorrendo as
novas estradas ou as reinventadas a esteira das abandonadas pela empresa
electricidade de Moçambique durante o seu processo de eletrificação de alguns
distritos no contexto da expansão da rede eletrificação para o distrito.
Por outro lado
trabalhadores das empresas Oceanic, Tong Fa, Mozambique Trading, Yzhou,Zen Long
e Nampula La Forest and logistic confirmaram que só os chineses estão
autorizados a conduzir os camiões do contrabando e que a quantidades de madeira
explorada passa dos limites estabelecidos por lei, a quantidade explorada por
empresas chinesas não é revelada com exactidão ao Estado moçambicano.
Da região de
Mucubela na Maganja da Costa (Zambézia) até Chalaua em Moma (província de
Nampula) atravessamos sucessivamente as regiões de Magiga, Mulela, Malema,
Nabúri, Mucorroge e Moma-sede, evitando deste modo, mais de cinco postos de
controlo dos SFFB de um total de sete desde a Província da Zambézia, Nampula até
ao porto de Nacala. O motorista não revelou o nome da empresa para a qual
trabalha, mas constatamos que na porta do camião havia sido estampado um logotipo
da empresa Tong Fa, Lda com sede em Nacala porto mas que a mesma não dispõe de instalações.
Recentemente
num encontro realizado na província de Inhambane o director nacional de terras
e florestas Simão Joaquim dizia haver empresas cujo suas licenças de exploração
madeireira estavam suspensas e outras advertidas devido aos atropelos as leis
de exploração florestal nas províncias de Sofala, Zambézia, Nampula e Cabo
Delgado.
A empresa Green
Timber de capital maioritário chinês uma das principais operadoras no ramo
madeireiro em Moçambique desde 1991 nas províncias de Nampula, Zambézia com um
número de sete concessões que variam entre 40 a 100 hectares, anteriormente
visada por ter tomada de assalto a reserva de Gilé com as suas 60 motosserras, tratores
tendo abatido diversas espécies, hoje e mais uma vez violando a lei viu as suas
instalações serem fechadas na província de Nampula.
Mas a Green
Timber mesmo com as suas instalacoes fechadas em Nampula, ainda faz uso do nome
das suas concessões satélites na exploração florestal como por exemplo a
‘Oceanic’ que continua a explorar. Então vejamos: Na Zambézia as concessões da
Green Timber de forma a não fazer o registo de muitas apenas num só nome o que
fazia com que explorassem mais, assim como dar continuidade as suas actividades
caso um destes braços fosse visado pelo sector da agricultura, tinham que ter
outras representações e empresas tais como a Oceanic, Katpark, Holding.Lda
foram a prior abertas pelo primeiro proprietário de nome Ken Tsou, actualmente
a Green Timber sob a égide de sua esposa Tina Tsou de origem taiwanesa com
nacionalidade Sul-africana, incluindo as licenças simples de exploração
adquiridas pela empresa usando nomes de singulares, não só na província da
Zambézia mas também em Nampula.
Segundo Paulo Feniasse,
Chefe dos Serviços Provinciais de Florestas e Bravia na direcção de Agricultura
de Nampula (SPFFB) “ as empresas Green Timber e a Mozambique Trading Internacional
no presente ano não estão a desenvolver as suas actividades de exploração
florestal devido a transgressão de normas de forma constante e foram suspensas
das suas actividades por ordens do Ministério da Agricultura. Neste momento a
Green Timber deve pagar uma multa de mais de três milhões de meticais por
violação das leis moçambicanas por isso não conseguem trabalhar. Esta medida
foi tomada pelo Ministério da Agricultura. Mesmo as instalações da Green Timber
estão encerradas e nada podem fazer antes de pagar a multa que lhes foi
imposta.”
Fecho das instalações da Green Timber no
bairro de Muhala Expansão na cidade de Nampula confirmado e recurso as suas subsidiárias
como a “Oceanic” para dar continuidade as suas operações, na apenas pela
empresa Green Timber de alguma forma contrariando os dados apresentados pelo
departamento de floresta e fauna bravia de Nampula. Exemplo: “Em Cabo Delgado, a
empresa Mofid. Lda viu a sua licença caçada por um ano mas que continuava a
operar através das
suas associadas como é o caso das empresas Henderson Internacional, Jian
Internacional e Kam Wam.”
Segundo o
inventário florestal nacional “O corte anual admitido para a província de
Nampula é de 43 a 57 mil metros cúbicos enquanto para a província da Zambézia é
de entre 91 a 122 mil metros cúbicos e em 2012 só na província de Nampula foram
explorados cerca de 16 mil metros cúbicos de madeira diversa e 9 milhões de
meticais arrecadados das multas, licenças de exploração.”
.
O governo de
Nampula arrecadou mais de 9 milhões de meticais ao atribuir licenças simples a
operadores florestais. Ainda no ano passado foram impostas multas por diversas
transgressões a legislação florestal. O valor total das multas é de pouco mais
de 7 milhões de meticais.
De acordo com
Paulo Feniasse, Chefe dos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia de
Nampula do valor global das multas apenas pouco mais de 2 milhões de meticais
foi pago. O remanescente foi encaminhado as Execuções Fiscais junto do Tribunal
Fiscal e Aduaneiro.
“Os maiores
prevaricadores são empresas estrangeiras, por isso mais de 6 milhões de
meticais de multas foi imposto a elas e acima de 1 milhão de meticais a
exploradores nacionais.”
Província
da Zambézia
A nível da Zambézia
segundo o chefe dos Serviços de floresta e Fauna Bravia (SFFB) Tomas Bastique,
“a empresa SOIMADEL localizada no distrito de Mocuba perdeu a sua concessão,
das 147 licenças emitidas no ano transacto, para este ano reduziu para
consideravelmente para 15 licenças simples e quanto as concessões florestais
foi de 50 no ano anterior para 35 no presente ano.
Informação
avançada pela Rede de Organizações para o Ambiente da Zambézia (RADEZA), indica
que entre 2005 e 2011 na linha dos 20% da ‘responsabilidade social” operadores
madeireiros canalizaram mais de 36 milhões de meticais para as comunidades e
para 2013 está em tramitação a canalização de
mais de 6 milhões de meticais referentes ao ano de 2012.
Novas regras param exploração florestal a redução de
número de concessões e Licenças simples
Apesar do número
de licenças simples oficialmente reduzidas, segundo dados apresentados pelo
sector de floresta e fauna bravia dos departamentos províncias da agricultura
em Moçambique, outras continuam sendo aprovadas a ‘porta de cavalo’ e não
divulgadas.
Na província de
Nampula em 2012 foram licenciados 74 exploradores em regime de licença simples,
numa média de 37 por semestre. Neste ano, até Julho finda apenas 41 operadores tinham
sido licenciados. São operadores moçambicanos que vendem a sua madeira ou que
por falta de capital dinheiro, camiões, indústrias alugam as licenças a
empresas chinesas.
Estado em que ficam as vias de acesso - Distrito de Moma |
“Os
formulários para requerer concessões são semelhantes aos das licenças simples
(incluindo o mapa, a descrição do plano de maneio, a consulta à comunidade),
mas são exigidos mais detalhes e hoje ambos são obrigados a ter uma indústria quer
a concessionaria assim como o de licença simples.”Disse Feniasse.
Faltam
meios para fiscalização
Nos postos de
fiscalização apuramos dos agentes afectos aos mesmos que faltam meios para
fiscalizar locais mais distantes de onde os mesmos estão instalados.
Os agentes
negaram serem gravados e fotografados e disseram que “não podemos comentar”,
mas, na conversa breve que a reportagem teve com eles ficou claro que “os
chineses usam meios sofisticados que nós. Não temos como persegui-los e se o
fizermos corremos o risco de ser mortos”.
Mas, a realidade
no terreno mesmo com a introdução de novas regras em que se estipula a
continuidade de 50 anos de exploração para as concessões e um aumento de 4 para
as licenças simples, a limpeza florestal vai se agudizando numa fase em que se
faz sentir a falta deste recurso, comunidades continuam a ver ‘navios” e o
reflorestamento! O período de crescimento de uma árvore das espécies Jambire, Pau-preto…ate
a fase adulta é no mínimo de 30 anos e, até lá vão sobrar os campos de futebol
em resultado do desflorestamento
Com alguns
proponentes, fazedores das leis moçambicanas como a de conservação florestal, referindo
os chefes dos ministérios como o da agricultura José Pacheco, Tomas Mandlate,
governadores, directores, lideres comunitários, fiscais envolvidos no
contrabando da medeira, as investigações anunciadas pelo do Procurador-Geral da
Republica Jorge Paulino sem resultados palpáveis, que futuro para os milhares
de moçambicanos que tem a terra, recursos naturais como sua fonte de rendimento,
4-0 com a china!
Segundo Natacha
Ribeiro investigadora florestal do departamento de Engenharia florestal da
Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique há muita pressão sobre as especies
“É preciso
incutir responsabilidades nas pessoas e não ficar a espera do governo, vai se plantando,
vai gerindo para que ela cresça, não é só plantar para que o presidente venha e
veja que a floresta esta la plantada e as pessoas sentirem que a floresta é
deles.
As espécies nativas têm um crescimento lento,
mas isto tudo resulta porque de facto não há conhecimento e preciso
conhecimento sobre as espécies nativas, das poucas experiencias que existem no
país, estamos a falar de valor comercial como a Chanfuta, Umbaru que tem um
crescimento razoável, obviamente se compararmos com eucaliptos, pinheiro, o
crescimento é mais lento. Há uma grande pressão sobre um determinado número de
espécies, haveria que ligar com a investigação para diversificar, no fim de
contas o que queremos é reduzir a pressão sobre estas espécies”.
Ainda de acordo com
Daniel Maula, Director Executivo da RADEZA- Redes das Organizações para o
Ambiente da Zambézia, “há muitos problemas”.
Carros e outros meios utilizados na abertura de estradas |
“A exploração
florestal traz consigo enormes problemas para o ambiente. As mudanças
climáticas são bastante visíveis nas comunidades. Veja que as chuvas já não
caem com regularidade. Os termómetros na província da Zambézia e Nampula são
agora os mais altos como consequência do desflorestamento. Há muita pilhagem de
madeira. Os chineses viraram os maiores compradores” – disse Maula, para quem
“os chineses financiam todo o processo de aquisição de licenças para os
moçambicanos porque os moçambicanos envolvidos não tem dinheiro e, estão a ser
usados pelo chineses e no fim não ganham nada se não destruir as nossas
florestas. Eles suportam todo o processo para que os moçambicanos irem cortar a
madeira e entregar a eles”.
Segundo o nosso
interlocutor “as estradas andam esburacadas por causa dos camiões que os
chineses disponibilizam para transportar a madeira que é saqueada nas
comunidades. As comunidades estão cada vez mais pobres porque já não podem
produzir devido a mudanças ambientais e passam a fome”.
Com efeito, “esta devastação está ficando grave do
ponto de vista ambiental, ecológico, económico e social. Esperamos um futuro
desastroso” – concluiu Daniel Maula.
*Este artigo foi financiado pelo FAIR e WITS China-Africa,
e publicado originalmente pelo Jornal Canal de Moçambique
Eu desconhecia o teu blog Aunício. Abraco!
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